sábado, novembro 11, 2006

No elevador


Meia-noite e meia.
Lico Maranhão, 44 anos, voltava pra casa de um longo dia de trabalho em seu escritório de arquitetura.
Cláudia Nogueira Flor, 23 anos, depois de 4 horas de aulas de Direito, entrou também no elevador.
Lico mora no 7o. andar.
Cláudia no 15o.
O elevador os levava normalmente para casa, até chegar por volta do quarto andar, quando parou.
Não era a primeira vez. Elevador velho. E a empresa que fazia sua manutenção sempre muito criticada.
Começa a conversa, não tem como evitar o silêncio comum a duas pessoas sem muito saco depois do longo dia. Comum se o elevador estivesse funcionando...
Antes da conversa, explico: Lico é um daqueles arquitetos arrojados, com pensamento lá na frente. Malha todos os dias, joga badminton duas vezes por semana.Moreno, bem torneado para a idade. Cláudia é mais séria, consequência da preparação pra ser advogada. Mudou até o tom de voz nos últimos anos, só de pensar em convencer os juízes e promotores. Loira, magra, mas não menos convicente fisicamente.
Lico: Xi, mais uma vez o elevador nos pregando uma peça, não é?
Cláudia: Pois é...
Lico: Será que vai demorar muito? Mês passado aconteceu isso. Fiquei aqui 10 minutos e tudo se resolveu. Mas a coisa tá ficando mais frequente...
Cláudia: Essa é a primeira vez que acontece comigo. Tomara que se conserte logo.
Não consertou. Passada 1 hora, com o ar condicionado interno já não ajudando mais...
Lico: Uma e meia da manhã. Todo mundo dormindo. O porteiro também, né, tenho reparado no seu Astolfo. Sempre acorda assustado quando eu chego.
Cláudia: E o pior é que eu tenho estágio amanhã cedinho.
Lico: O que vamos fazer? Já te contei do meu dia de trabalho, da minha família toda, ex-mulher, meus dois filhos. Contei das minhas férias. Você também já me relatou boa parte de sua vida recente.
Cláudia: É, há males que vêm pro bem.
Lico: Eu gostaria de pedir para tirar minha camisa. Tá começando a ficar quente. Você se incomoda?
Cláudia: Bom, o que posso dizer? Tá quente mesmo. Fica à vontade. Vou tirar meus saltos altos, que estão me matando.
2 da manhã...
Lico: Será que fomos esquecidos aqui? Caramba. Cláudia, eu sei que fica estranho, mas não estou aguentando. Posso tirar a calça?
Cláudia: Eu já não sei o que pensar, Lico. Tá ficando bem quente por aqui. Tira, tira. O chato é pra mim. Sou mulher, e já encharquei esta roupa.
Lico: Olha só, Cláudia, estamos numa situação anormal. O que eu posso te falar é que não sabemos quando alguém nos socorrerá. Então creio que teremos que alongar o tempo. Esta sua roupa toda aí não vai ajudar. Com todo respeito. Fica tranquila. Apagarei da minha memória o que aconteceu aqui.
Cláudia: Ai, ai, paciência então. A coisa tá difícil.
E Cláudia tirou a saia, e a blusa.Olhares foram trocados.
Passou mais meia hora.
Lico: Cláudia, acho que esqueceram da gente. Tá difícil ficar aqui sem nada pra fazer. Que tal se eu tirar a cueca, e você tirar suas peças que ainda restam? Não, não, péra aí, calma, é como eu te disse. Devemos esquecer o que se passou aqui. É tudo atípico. Pelo menos uma visão nova pode nos acalmar.
Cláudia: Caramba, e eu que nunca tinha imaginado como é difícil estar nessa situação. Mas não tiro sua razão. Pelo menos não fiquei presa aqui com um velho gordo. Eu topo.
Cláudia ficou nua, depois de Lico.
Lico: Com toda sinceridade, Cláudia, você é a mulher mais bonita deste prédio. E com toda a licença que eu posso te pedir, os teus seios estão entre os mais bonitos que já vi.
Cláudia, quase roxa de vergonha: Aiiiii, aiiii, aiiii. Obrigada!! Caramba!! Você também tem um corpo que eu vou te contar...
Lico: Vamos passar o tempo então? Posso chegar mais perto?
O tempo foi passado. Duas horas. A imaginação dos dois, aguçada pela situação, proporcionou uma selvageria, onde inexplicavelmente o elevador não caiu. Sexo puro, curioso, inalcançável.
Não fosse o Beto do 10o. andar chegar de uma festa em plena terça-feira, às 4 e meia da matina, o início do romance de elevador de Lico e Cláudia jamais teria fim. Pelo menos pra eles.
A partir deste dia, e com mais alguns meses, Lico e Cláudia passaram a economizar um dos aluguéis.

7 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Fred!

rsrsrsrsrs...não tem coisa melhor que logo cedo se divertir assim, com texto como esse...muio bom..parece sinopse de comedia romantica...a unica vez que o elevador me prendeu eu quase perdi o dedo.

Um abraço e bom domingo

Marina disse...

Muito bom texto, Fred. Envolvi-me na história de Lico e Cláudia até o fim. Esperava que, no final, alguém fosse interromper o romance bem no início, como seria de se supor, mas você não me decepcionou: deixou o amor dominar. Como diria Lenny Kravitz: "Let Love Rule".

A respeito da música do Queensryche, eu falava disso com a Mônica. É tão raro ouvir músicas em inglês que façam algum sentido, quando trasncritas em português que, ao ouvir aquela música pela 1ª vez, me apaixonei! Hoje , é minha música preferida. Escuto-a sempre que posso. Enche-me de energia porque eu sou o sonho de consumo de Jung -> manifesto TUDO pelos meus sonhos. Vivo, conheço, descubro, tenho revelações, sou consolada, tudo pelos sonhos. É impressionante.

Vivo quase ao mesmo tempo em universos parelelos e não desgosto disso. A música vem bem a calhar.

Beijos grandes. Vou te linkar agora. Desculpe demorar tanto, mas meu VEEEEEEEEEEELHO computador não tem me ajudado muito ultimamente.

Beijos.

Jéssica disse...

Eita coisa boa, né, Fred?
Tem jeito melhor pra matar o tempo e mandar o medo pra casa do chapeu do q esse?
Craru ki naum...rs...
Beijosssssssssss

Anônimo disse...

Menino meineiro... que saudades de vc uai! rs
Tá tudo bem?
Nossa, quantos posts eu perdi heim?
Desculpa o sumiço. A faculdade tá me matando! rs
Sugou todo o tempinho livre que tinha... mas paciência!
Aparece lá depois tá?
Sua presença sempre me deixa muito feliz!
Adorei este texto... haja imaginação!!!! kkkkkkkkkkkkkkkk
Deu até calor! rs
Ótimo domingo e uma semana ilumianda pra vc tá?
Paty
:)

Fred Neumann disse...

Oi, Sergião,

A área de contos é nova pra mim, acho que é o terceiro mini-conto que faço. Mas o seu elogio atinge meus objetivos: passar o humor nas linhas.

Moniquinha, outro elogio que adorei: consegui o inesperado. hehehe!
As comidas estão sob controle, mas continuam deliciosas, hehehe!

Nikita, é outro que eu adoro, Lenny Kravitz.
E a vida, sem sonhos, não tem graça. Mesmo o executivo mais sério, ou o matemático mais racional, pra ter sucesso, sonham, e muito, né?

Je,legal esquecer o medo assim, né!!

Oi, Paty, como vão as Letras?
Passei lá no seu blog ontem, grande espaço da poesia!

Beijocas a todos,

Fred

Unknown disse...

Pô, o amor ainda existe é?
rs*

(Tô azeda hoje)

Dois Cafés disse...

Fala, Fredão!
Gostoso seu conto. E encontros assim são uma delícia. Tenho uma certa atração por elevadores, aqueles olhares de canto de olho, aqueles cumprimentos e despedidas meio sem jeito, a curiosidade pela pessoa ali ao seu lado... são divertidos. Quero mais!!!
Bjão