quinta-feira, fevereiro 14, 2008

No fundo da Lagoa do Barreiro- Capítulo 13


Vera arruma sua cama quatro vezes por dia. Já sua penteadeira ela arruma somente duas vezes diárias. O banheiro ela lava por incrível que pareça somente uma vez por dia. A sereia número onze tem mania de perfeição, mania de limpeza, transtornos variados e tudo o que uma sereia não deve ter. Mas ela tem algo que poucas sereias neste mundo possuem em tamanha quantidade: sua beleza inesgotável.
Como todas as outras sereias da Mansão de Ana Jacinta, Vera possuía pernas ao adentrar a mansão e sair da água. E que pernas. As mais torneadas de toda Lagoa, as mais longas e não por isso as mais finas.
Ao contrário de outras sereias, Vera possuía um silêncio avassalador, que multiplicava ainda mais seus dotes. Foi este conjunto de características que Olavo conheceu em seu décimo primeiro dia na casa.
Sereia onze, dia onze. Olavo aproveitou esta coincidência para puxar papo com Vera. O sim que a sereia retornou a ele foi tão rápido, mas mesmo assim não tão seco. O sumido araxaense deixou cair seus lábios com a resposta, que só aprofundou mais o silêncio de Vera. Que só aprofundou mais sua beleza. A cada momento que passava, corroído ou embelezado pelo silêncio de Vera, Olavo mais ficava encantado com todo este novo tipo de sereia que ele havia conhecido. Era mais um motivo para ele não mais lembrar de Cordélia e de todo o mundo lá em cima. Não que teria problema se ele lembrasse, pois sempre tinha Ana jacinta e suas pílulas de lama para ativarem o esquecimento na memória de Olavo.
Olavo passou neste dia dez horas seguidas no quarto de Vera. Foi muito mais pelo feitiço da beleza da sereia que pelo papo em si, pois juntando tudo ele deve ter chegado a meia hora de conversação no máximo. No final do décimo primeiro dia, quando Olavo saiu do quarto de Vera, ele teve a sensação de ter conhecido talvez a sereia que mais iria enfeitiçá-lo durante sua estadia-sem-dia-pra-acabar na mansão. Porém, ainda faltavam vinte e três sereias para ele conhecer. Nada que tirasse de sua memória, de suas narinas e de seus olhos, a figura de uma sereia que enquanto estivesse em sua frente, não mais existiriam outros mundos.

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